Hoje eu peço licença ao leitor para não falarmos em Direito Ambiental. Vou contar uma história vivida por mim nessa maravilhosa vida rural.
Há tempos, tive a infelicidade de comprar um jumentinho para a Fazenda. Motivo? Sinceramente não sei. Talvez, deva ter sido o preço atrativo de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais). Deveria ter desconfiado que coisa boa não era, até mesmo pelo valor, mas… tem coisas na vida que é igual a febre: dá e passa. Mas serviu a lição…
Desde sua chegada na propriedade, o jumentinho não parou sequer um mísero dia na Fazenda, o que nem preciso dizer, já me causou uma situação desagradável com meus vizinhos de cercas. Aliás, por falar em cerca, estava aí uma coisa que ele não sabia que existia. Atravessava todas. Entrava na soja, conhecia as mais diversas pastagens alheias, comia a silagem dos vizinhos, mordia e dava coice nos outros animais, e até abrir a tramela da porteira com a boca o infeliz aprendeu.
Uma vez por semana a redondeza nos ligava para ir buscar a peste do jumentinho. Pensei que talvez ele pudesse então me dar uma cria. Esperamos uma égua pegar o cio e até preparamos o ambiente. Deixamos o jumentinho na parte mais alta do barranco, na altura ideal para o acontecimento do namoro. Tudo em vão. Nenhum interesse despertava ele pelo sexo oposto. Aí eu confesso que fui ficando bravo. Nem pra isso ele era útil.
Na tentativa de venda, me alertaram que ninguém compraria o jumento, foi quando decidi doá-lo. Acontece que ninguém queria também. Nem de graça.
Um certo dia, recebi uma ligação para ajudar um leilão beneficente. Diziam eles que a doação de qualquer prenda seria de coração. Foi quando ressaltei a pergunta: mas qualquer coisa vocês aceitam mesmo? Olha?
– Sim, aceitamos.
Bom, era, quem sabe, a única possibilidade de me livrar do danadinho.
Marquei com antecedência o seu embarque na fazenda, justamente para dar tempo de fechá-lo no piquete. As 8h da manhã do dia combinado, chegou à caminhonete para buscá-lo. Fomos ao local, cadê o jumentinho? Nada. Lá fomos nós a sua procura novamente. Selamos os cavalos e cada um para um canto. Enquanto isso, o homem encarregado pelo frete não conseguia esconder sua cara de insatisfação, principalmente quando disse que estava fazendo o carreto de graça, afinal de contas, todos nós estávamos imbuídos pela boa causa, o leilão beneficente.
Enfim, por volta das 14 h, o jumentinho foi embarcado. Ufa! Meu Deus, que trabalho. Metade de mim era exaustão. A outra metade, felicidade de me livrar do danadinho.
Até recebi o convite para ir à noite ao leilão, mas confesso, cá entre nós, não queria ver a cara do jumentinho. Isso sem dizer na vergonha que tinha do público em saber que era eu quem estava doando o animal. Aliás, o leiloeiro nem anunciou quem estava doando a prenda.
No dia seguinte, me contaram sobre o leilão. Fiquei sabendo que ele, o jumentinho, a “estrela da noite” foi o segundo lote a se apresentar na pista. E olha, recebeu lances o danadinho atentado. Mas adivinhem o que aconteceu? Quem o arrematava, doava novamente para o leilão. E a saga continuava. O segundo arrematante fez o mesmo. E assim foi. Foi quando o leiloeiro anunciou ao microfone: o próximo a arrematar o jumentinho vai levá-lo para casa, pois o leilão tinha que prosseguir. Não se sabe porque, os lances desapareceram em seguida. Ninguém mais lançava.
Por fim, uma alma boa deve ter arrematado o coitado e o levado para casa, logicamente, para o desespero da nova vizinhança, o qual ia passar a conhecer suas travessuras. Talvez, o pestinha tenha me servido apenas para duas coisas: experiência e pra contar essa história verdadeira a vocês. E se alguém me perguntar por onde anda o jumentinho, certamente vou dizer: não sei e não quero saber…